Reações adversas aos alimentos podem ser divididas em dois grandes grupos: ALERGIAS e INTOLERÂNCIAS. Devido a similaridade de sintomas digestivos entre as duas e a melhora clínica após a retirada do leite e derivados, a alergia ao leite é comumente confundida com a intolerância à lactose. Mas há diferença sim, e ela é IMUNOLÓGICA.
A alergia é uma resposta imunológica inapropriada caracterizada pela ativação de anticorpos (IgE) e que é induzida por PROTEÍNAS existentes nos alimentos. Neste caso, o nosso sistema imunológico identifica um alimento como um invasor ou agressor, e tenta neutralizá-lo. Esta resposta é imediata, e os sintomas podem surgir em segundos, minutos ou algumas horas. A alergia ao leite é geralmente diagnosticada na infância, e as proteínas mais importantes envolvidas são a caseína, alfa-lactoalbumina e beta-lactoglobulina.
A intolerância alimentar é uma reação não-imunológica aos alimentos e que pode ser causada por qualquer substância NÃO-PROTEICA contida em um alimento, sendo muito mais comum que as alergias alimentares. Ou seja, temos a dificuldade digestiva em lidar com algum alimento, mas não o vemos como um inimigo. Simplesmente não nos damos bem! No caso do leite, a intolerância está ligada à LACTOSE.
A lactose é um açúcar presente no leite, e que é digerida no intestino delgado através da enzima chamada LACTASE. Nos pacientes intolerantes à lactose, há uma deficiência da produção de lactase, tornado-nos inaptos a digerir este açúcar. Esta falha na produção da lactase pode ser primária, e decorre da programação genética que algumas pessoas têm de diminuir a produção de lactase durante a vida. Este processo ocorre em 25% das pessoas. Ou secundária, que é o resultado de uma doença que afeta o intestino e torna-o incapaz a produzir a lactase. Um bom exemplo disto é a doença celíaca, quando uma inflamação intestinal auto-imune gerada pelo glúten impede que o intestino produza a lactase, tornando os celíacos intolerantes à lactose.
Quanto aos sintomas, as queixas mais comuns são dor abdominal, diarreia, má-digestão (dispepsia), náusea, distensão abdominal, gases intestinais e flatulência. A alergia também causa alterações na pele, coceira, edema ou asma. Em casos extremos, há o choque anafilático.
Alérgicos ao leite devem evitar a ingestão deste alimento e seus derivados. E lembrar que para este grupo não há qualquer vantagem em ingerir produtos sem lactose, visto que o seu problema está nas proteínas do leite, e não no açúcar. Ou seja, ingerir leite sem lactose é estar tomando as proteínas do leite da mesma forma! A boa notícia é que a alergia ao leite costuma ceder após a primeira década de vida.
No caso da intolerância à lactose primária, pacientes podem tomar suplementos de lactase quando desejam ingerir leite e derivados ou simplesmente deixar de ingerir estes produtos. O mesmo ocorre com pessoas com intolerância secundária, mas estas geralmente se tornam novamente tolerantes quando o intestino doente cicatriza e a produção de lactase volta ao normal.
Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo
Especialista em Doença Celíaca e Doenças Intestinais Funcionais
Reações adversas aos alimentos podem ser divididas em dois grandes grupos: ALERGIAS e INTOLERÂNCIAS. Devido a similaridade de sintomas digestivos entre as duas e a melhora clínica após a retirada do leite e derivados, a alergia ao leite é comumente confundida com a intolerância à lactose. Mas há diferença sim, e ela é IMUNOLÓGICA. A […]