O que é?
Câncer de estômago (gástrico) é a presença de tumor maligno no estômago. Os países com maiores índices de câncer de estômago são o Japão e o Chile. No Brasil, este tipo de câncer é o quarto mais freqüente.
O câncer gástrico é mais freqüente em homens do que em mulheres, e a sua incidência e mortalidade aumentam com a idade. Está relacionado ao baixo índice sócio-econômico, refletindo fatores culturais, sociais e ocupacionais da doença.
Fatores de Risco
A dieta tem recebido muita atenção como um potencial fator de risco para o desenvolvimento do câncer de estômago. As principais substâncias relacionadas a este tipo de câncer são os nitratos e nitritos, que quando digeridos são transformados em nitrosaminas (agente causador do câncer). Estas substâncias são encontradas, principalmente, em alimentos defumados, que contém altos níveis de sal, nitritos e nitratos. Vegetais guardados em conserva e carnes conservadas à base de sal (peixes, carne do Sol) também apresentam os nitratos e os nitritos. Em contrapartida, algumas substâncias (beta-caroteno e ácido ascórbico) encontradas nas frutas e verduras frescas, atuam como protetoras, já que evitam a conversão de nitritos para nitrosaminas. Em algumas regiões do Brasil, onde os alimentos não são conservados em geladeira e a sua preservação é ruim, o número de pacientes com câncer de estômago ainda é muito alto.
Outro fator de risco seria a presença de uma bactéria no estômago conhecida como Helicobacter pylori. Esta bactéria é encontrada em algumas pessoas, e está associada ao aparecimento de alguns tipos de gastrites e úlceras de estômago, além do desenvolvimento do câncer de estômago. A incidência desta bactéria é maior onde o nível sócio-econômico é mais baixo. A presença do H. pylori aumenta em 3 a 6 vezes o risco de surgimento do câncer gástrico. O H. pylori causa uma gastrite crônica, que se não tratada, evolui para a gastrite atrófica e para a atrofia gástrica. Sabe-se que a atrofia gástrica é um fator de risco importante para o desenvolvimento do câncer de estômago.
Os pólipos adenomatosos de estômago são lesões benignas da mucosa do estômago, mas que apresentam o potencial de malignização, ou seja, podem se tornar tumores malignos de estômago. Estes pólipos ocorrem mais comumente entre a quinta e sétima décadas de vida. O risco de desenvolvimento de câncer de estômago em pólipos adenomatosos é de 10 a 20%, sendo mais evidente nos pólipos maiores que 2cm. Os pólipos são diagnosticados com a endoscopia digestiva alta, podendo até mesmo ser biopsiados e ressecados (retirados) durante este exame. Pacientes com múltiplos pólipos adenomatosos (pré-malignos) devem ser tratados com a ressecção do estômago.
Há evidência forte de que cirurgias prévias de estômago para o tratamento de lesões benignas de estômago (úlceras principalmente) são fatores de risco para o desenvolvimento de câncer gástrico. Este tipo de câncer apresenta prognóstico ruim, e é diagnosticada em estágios mais avançados e em pessoas mais velhas. Devido a isto, pessoas que foram submetidas à ressecção parcial de estômago no passado, devem realizar freqüentemente endoscopias digestivas para a prevenção do câncer de estômago.
Estadiamento
Sabe-se que o prognóstico do câncer está relacionado à penetração do tumor na parede do estômago e a presença de gânglios linfáticos comprometidos pelo câncer. Devido a este fato, o câncer de estômago é classificado de acordo com a presença de tumor nas camadas da parede do estômago e dos locais e número dos gânglios linfáticos doentes, além é claro, da presença de metástases, que é a disseminação do tumor para locais distantes ao estômago.
Quanto maior a penetração do tumor no estômago, e quanto maior o número de gânglios linfáticos e mais distantes do estômago eles estejam, menores são as chances de cura para estes pacientes. Estes dados explicam porque o diagnóstico do câncer de estômago em uma fase precoce apresenta melhor possibilidade de cura, já que quanto mais precoce é o câncer, menor é o comprometimento da parede do estômago e menor a chance de se encontrar tumor em gânglios linfáticos.
Sintomas
Os sintomas do câncer gástrico em sua fase precoce são vagos e inespecíficos, e eles se assemelham aos sintomas relacionados à gastrite e úlceras de estômago. Os sintomas não se tornam evidentes até que o tamanho do tumor seja suficiente para causar alteração da motilidade do estômago, para diminuir o espaço para a passagem dos alimentos e para sangrar devido à ulceração do tumor.
Os sintomas mais comuns são a perda de peso, dor abdominal (principalmente na região do estômago), perda do apetite, náusea e sensação precoce de satisfação durante as refeições. O sangramento digestivo também poderá ocorrer devido ao tumor do estômago, e será caracterizado por vômito com sangue, ou pela evacuação de fezes muito enegrecidas, pastosas e com odor muito forte (chamada melena).
Ao exame físico, o paciente pode referir dor à palpação do estômago. O exame também pode mostrar a presença de gânglios linfáticos comprometidos pelo tumor. A palpação do tumor só acontece quando este se encontra em fase muito avançada.
Como se observa, os sintomas do câncer do estômago não são específicos, e sendo assim, pessoas que apresentem este quadro devem procurar o seu médico e realizar exames preventivos.
Exames Diagnósticos
O principal exame diagnóstico é a endoscopia digestiva alta, que observa com facilidade a presença de lesão tumoral, assim como permite a realização de biópsias, garantindo o diagnóstico preciso do câncer de estômago. Um avanço tecnológico da endoscopia digestiva é a ultra-sonografia endoscópica, ou seja, uma endoscopia com ultra-sonografia. A ultra-sonografia endoscópica permite a visualização da parede do estômago em sua espessura, mostrando até que profundidade esta parede foi acometida pelo tumor. Além disso, este tipo de ultra-sonografia detecta a presença de gânglios linfáticos comprometidos e de metástases em órgãos próximos ao tumor (fígado, pâncreas, intestino).
A tomografia computadorizada e a ultra-sonografia de abdome têm como principal função mostrar se há comprometimento dos órgãos adjacentes ao estômago ou se há metástase à distância. Sendo assim, são métodos importantes no estadiamento dos tumores. Em alguns casos, estes exames detectam o câncer gástrico devido ao espessamento da parede do estômago causada pelo tumor, mas de forma alguma, devem substituir a endoscopia digestiva como melhor método diagnóstico.
Tratamento
A ressecção (retirada) da parte do estômago afetada pelo câncer (parcial) ou de todo o estômago (total) é o tratamento de escolha para o câncer gástrico, e ainda é a única opção de cura para estes pacientes. Esta cirurgia é chamada de gastrectomia, e consiste da ressecção do tumor, com reconstrução imediata do trânsito intestinal, ligando o intestino à parte restante do estômago (gastrectomia parcial) ou ao esôfago (gastrectomia total). Durante esta cirurgia, todos gânglios linfáticos e os tumores em outros órgãos (fígado, pâncreas e intestino) também devem ser retirados, promovendo assim, a melhor chance de cura para estes pacientes.
Nos casos mais avançados, em que há metástase à distância, e onde as chances de cura são menores, acredito que a cirurgia ainda deva ser realizada. Nestes casos, o objetivo da cirurgia é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, evitando que estes continuem a apresentar dor abdominal, sangramento e obstrução pelo tumor.
Em geral, os pacientes permanecem internados durante 5 a 10 dias, período em que haverá a adaptação da dieta (de líquidos até dieta livre) por parte do paciente.
Quimioterapia e Radioterapia
A quimioterapia e a radioterapia estão indicadas nos casos mais avançados do câncer gástrico. Na fase pré-operatória, estes métodos de tratamento têm como função diminuir o tamanho do tumor, fazendo com que os pacientes apresentem uma melhora de estadiamento. Desta forma, ocorre a facilitação do procedimento cirúrgico, assim como, aumenta a chance de cura para estes pacientes.
Nos pacientes operados com intenção curativa, mas em que houve a presença de gânglios linfáticos comprometidos, o tratamento complementar com quimioterapia e radioterapia pode dar maior chance de cura, evitando a recidiva do tumor.
Apesar dos avanços no uso da quimioterapia e radioterapia para o tratamento pré ou pós-operatório do câncer de estômago, estes ainda são limitados, e de forma alguma superam a cirurgia como a melhor forma de tratamento.