Cálcio e sua suplementação: prevenção de osteopenia, osteoporose e fraturas.

Cálcio e sua suplementação: prevenção de osteopenia, osteoporose e fraturas.

Dr Fernando Valerio - Blog - Calcio
Tanto médicos quanto pacientes se sentem confusos sobre a quantidade de cálcio que devemos ingerir para reduzir os riscos de fraturas, e mais ainda, se a suplementação de cálcio é realmente necessária. Sabe-se hoje que a deficiência de cálcio por longos períodos pode claramente aumentar as chances de desenvolvimento da osteoporose (perda de massa óssea), mas erradamente algumas pessoas acreditam que eventos fisiológicos da perda de massa ósseas como a menopausa e a idade, e que estão associadas a fraturas, podem ser extensivamente interrompidos pela suplementação do cálcio. Além disso, enquanto algumas pessoas apresentam um maior risco devido à deficiência de cálcio, aquelas que usam os suplementos podem ingerir mais deste mineral do que o necessário. Esta dificuldade em propor a suplementação do cálcio decorre do conhecimento médico ainda não totalmente esclarecido sobre as interações entre o cálcio e a vitamina D, onde não se define os riscos associados claramente da deficiência desta substâncias isoladamente. O objetivo deste artigo é discutir a relação entre a ingestão de cálcio e a redução do risco de fraturas, além de comentar sobre a segurança na suplementação do cálcio.
Mais de 98% de todo o cálcio em nosso corpo está contido dentro do esqueleto. O osso serve como um reservatório de cálcio, que pode ser estocado ou liberado quando necessário. O cálcio tem duas funções principais nos adultos: age como um mensageiro dentro das células e é um componente chave da hidroxi-apatita, que está presente em grande quantidade na matriz do osso, fornecendo força e rigidez para o esqueleto. Baseado nos estudos sobre o balanço do cálcio em pessoas com menos de 50 anos e naquelas em que há aceleração da perda óssea, como na menopausa e idade avançada, determinou-se a necessidade de ingestão de cálcio diária pelo sexo e idade. Desta forma, a recomendação de ingestão de cálcio para mulheres de 19 a 50 anos e para homens de 19 a 70 anos é de 1000mg por dia. Mulheres com mais de 50 anos e homens com mais de 70 anos necessitam de 1200mg. No entanto, a ingestão de mais de 2500mg deve ser evitada, visto que há um aumento da incidência de cálculos renais nestes casos. É interessante lembrar também que na gestação e amamentação, a mulher tem um aumento da capacidade de absorção de cálcio, mas que isto não interfere na recomendação e necessidade de cálcio que é indicada para as mulheres com menos de 50 anos.
Quanto às fontes de cálcio, mais de 70% do cálcio da nossa dieta vem a partir do leite e dos seus derivados (laticínios). Os laticínios são a principal fonte de cálcio da nossa dieta por serem produtos muito disponíveis, e com exceção dos portadores de intolerância à lactose, não apresentam efeitos colaterais. O restante do cálcio necessário é originado de outras fontes alimentares, como vegetais e grãos. Quanto aos laticínios, as principais fontes são o leite, o iogurte e os queijos. Em relação a frutas e vegetais, o cálcio está presente em sucos fortificados com cálcio, brócolis, feijão, repolho, espinafre e couve. Quanto às carnes, encontra-se cálcio em boas quantidades na sardinha e no salmão. Outra fonte de cálcio são os grãos, como os cereais de aveia fortificados. Como exemplo de porções, é interessante comparar o leite, que é a principal fonte, com os outros alimentos. Sendo assim, um copo de leite (240 g) tem a mesma quantidade de cálcio que 12,3 porções de feijão (porção de 177 gramas), que 4,5 porções de brócolis (porção de 71 gramas), que 12,3 porções de repolho (porção de 85 gramas) e que 15,5 porções de espinafre (porção de 90 gramas). Por esta comparação é possível entender porque os laticínios são tão importantes no equilíbrio do cálcio, e que a retirada destes produtos da nossa dieta deve ser muito pensada e orientada por profissional capacitado, visto que a reposição de cálcio será necessária.
Quanto aos suplementos de cálcio, os estudos não sugerem diferença entre as ações metabólicas do cálcio adquirido na dieta daquele proveniente de suplementos. Assim, a necessidade de se repor o cálcio ou não com suplementos dependerá se a ingestão de cálcio da dieta é adequada e se os benefícios serão maiores que os malefícios. Quanto às apresentações, o cálcio pode estar na forma de carbonato de cálcio, citrato de cálcio, lactato de cálcio e gluconato de cálcio. O carbonato de cálcio é um suplemento barato e muito comercializado, mas quando comparado com os outros suplementos, causa mais gases intestinais e constipação. Além disso, o carbonato de cálcio deve ser ingerido com as refeições, visto que a absorção deste suplemento é maior quando há a presença de acidez gástrica. O citrato de cálcio é uma alternativa para pacientes com muitos efeitos colaterais digestivos, e pode ser ingerido longe das refeições e em pessoas que tomam medicamentos para diminuir a secreção ácida do estômago.
O risco de fraturas em pessoas acima de 70 anos e em mulheres no período da menopausa ocorre quando a há a alteração do cálcio nos ossos, o que decorre da perda de equilíbrio entre a formação e a reabsorção óssea. No período da menopausa, a perda de massa óssea está relacionada à diminuição do estrogênio, enquanto a perda óssea no homem e na mulher é determinada pela genética, hormônios e outros fatores. Estudos sugerem que o risco de fratura é maior quando a ingestão de cálcio é menor que 700 a 800mg por dia. No entanto, a suplementação de cálcio com vitamina D (que aumenta a absorção de cálcio) mostrou um resultado modesto na prevenção de fraturas, e por isso a suplementação de cálcio não é indicada rotineiramente. Além disso, a suplementação de cálcio apresenta alguns efeitos colaterais menores , como a constipação e má digestão (dispepsia). O surgimento de cálculos renais também está associado à suplementação de cálcio, mas quando o cálcio é adquirido na dieta normal, este risco diminui. A explicação para isto é que a ingestão de cálcio na dieta diminuiria a absorção de oxalato, o que reduziria a formação dos cálculos renais. Outros estudos sugeriram que os suplementos de cálcio estariam associados ao desenvolvimento de câncer de próstata, mas isto não se mostrou verdadeiro em estudos mais amplos e rigorosos. Outro efeito colateral citado e relacionado aos suplementos de cálcio foi o maior risco de surgimento de doenças cardiovasculares, como arritmias cardíacas e infarto agudo do miocárdio, mas estudos recentes não parecem confirmar esta relação e os dados ainda são inconsistentes com tal afirmação. De qualquer forma, os pacientes devem ser encorajados a aumentar a sua ingestão de cálcio na dieta, evitando-se assim os riscos da suplementação.
Em resumo, os médicos devem recomendar aos seus pacientes que não apresentem efeitos adversos com a ingestão de leite e seus derivados que tenham uma ingestão regular destes produtos, assim como alimentos que sabidamente sejam uma boa fonte de cálcio. Atualmente há um modismo não justificado pelo não uso de produtos lácteos devido à presença da lactose (açúcar do leite), que poderia causar alterações na flora intestinal (disbiose), alergias, inflamações intestinais, envelhecimento e ganho de peso. Na minha opinião, este comportamento trará consequências ósseas notórias no futuro, principalmente nas mulheres jovens que não ingerem laticínios e não repõem o cálcio através de outras fontes alimentares e suplementos. Durante a nossa infância e na idade adulta jovem, ainda formamos massa óssea, e que se manterá estável por alguns anos. Se não houver uma boa formação óssea neste período, nos momentos críticos como a menopausa e a velhice, a reabsorção óssea terá uma maior repercussão, fazendo com que quadros de osteopenia, osteoporose e fraturas sejam mais comuns e intensos. No entanto, nos casos em que a recomendação de cálcio diária não é atingida através da dieta, a suplementação de cálcio deve ser discutida.

 

Dados do autor:
Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista, Nutrólogo e Proctologista
São Paulo, SP
Consultas: particulares e Omint

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Dr. Fernando Valério