A doença diverticular ou diverticulose refere-se à presença de divertículos na parede do intestino grosso (cólon). Estes divertículos são saculações que se desenvolvem com o passar dos anos de vida em decorrência da pressão exercida por gases e fezes contra a parede do cólon. Esta pressão faz com que ocorra uma lesão na camada muscular do intestino afetado, levando ao surgimento dos divertículos. Em relação à incidência da doença, pessoas maiores de 60 anos podem apresentar os divertículos entre 60 e 80% dos casos, enquanto nos idosos maiores de 80 anos, virtualmente 100% desta faixa etária é acometida pela doença diverticular. Felizmente, a grande maioria dos pacientes portadores de doença diverticular se apresenta assintomática, enquanto 25% dos pacientes podem apresentar sintomas significantes. Os sintomas mais comuns são a presença de dor abdominal, alteração do hábito intestinal, aumento dos gases intestinais e distensão abdominal. A principal complicação da doença diverticular, no entanto, é o surgimento de um processo inflamatório no divertículo, o que se denomina diverticulite aguda. E quanto à dieta alimentar, ela interfere no surgimento da doença? E que dieta seguir na presença da doença diverticular ou da diverticulite?
A deficiência da ingestão de fibras é considerada o ponto central no desenvolvimento da doença diverticular. Sabe-se que tribos africanas (Uganda) que mantém uma alta ingestão de fibras, praticamente não desenvolvem divertículos, enquanto em países em que o consumo de fibras é pequeno, a prevalência da doença é alta. Percebe-se hoje que a o aumento dos casos de doença diverticular é paralelo ao decréscimo do consumo diário de fibras. Acredita-se que a baixa ingestão de fibras tornaria o bolo fecal menor, e que isto reduziria o diâmetro da luz (interior) do intestino. Desta forma, quando houvesse o mecanismo de peristaltismo, o esforço muscular que deveria ser aplicado contra as fezes, passa a ocorrer contra a parede do intestino grosso, causando o surgimento das saculações (divertículos).
E quando alguém já apresenta a doença diverticular, qual a melhor dieta para que se evite a inflamação do divertículo, ou seja, a diverticulite? Há um folclore de que não se deve ingerir grãos, sementes ou fibras, mas este conceito é equivocado. Na minha prática médica eu ouço com frequência que as pessoas não comem tomate em razão das sementes, ou evitam cereais por causa dos grãos, e às vezes esta recomendação é dada pelos próprios médicos. A razão para este pensamento é de que os grãos poderiam levar à obstrução do divertículo, gerando assim uma inflamação e infecção do mesmo, ou seja, a diverticulite aguda. Mas o que é realmente correto? Na verdade, os estudos mais atuais mostram exatamente o contrário, ou seja, este tipo de dieta está indicada na prevenção das crises de diverticulite. Sendo assim, a ingestão de castanhas, nozes, cereais e milho, por exemplo, poderia ter até um efeito protetor. Mais do que isso, pessoas que já apresentaram quadros de diverticulite aguda previamente apresentam menor recidiva dos sintomas quando têm uma alimentação rica em fibras no período pós crise.
E quando se está com um quadro de diverticulite aguda, a ingestão dos grãos e sementes está liberada? Neste caso não, visto que o intestino está inflamado, e o melhor a se fazer é deixá-lo em certo repouso. Por isso, na vigência da diverticulite aguda, o recomendado é que a ingestão das fibras seja paulatina e orientada por médico especialista.
Portanto, sugiro que os portadores de doença diverticular procurem orientação sobre qual dieta seguir em seus casos antes de limitarem a ingestão de alimentos importantes. Lembro que as sementes e cereais ajudam na prevenção do câncer de intestino, melhoram os quadros de constipação, colaboram na diminuição do colesterol e nos oferecem gorduras insaturadas (gorduras saudáveis) como fontes de nutrientes.
Dados do autor:
Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista, Nutrólogo e Proctologista
São Paulo, SP
Consultas: particulares e Omint
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