A intolerância aos alimentos que contém lactose é bastante comum e afeta praticamente todas as raças, com prevalência variável. Por exemplo, os hispânicos podem apresentar a intolerância à lactose em 50% da sua população adulta, enquanto os europeus caucasianos têm uma prevalência para esta intolerância alimentar entre 7% e 20%. Os sintomas mais relacionados à intolerância à lactose são a diarreia, a dor abdominal e a flatulência, e ocorrem após a ingestão de leite ou derivados do leite.
A digestão da lactose, que é o carboidrato mais importante do leite, ocorre através da hidrolização da lactose em glicose através de uma enzima chamada lactase. Este processo ocorre no intestino delgado, e por isso nas pessoas com deficiência da lactase até 75% da lactose chega ao intestino grosso sem ter sido absorvida. No intestino grosso, a lactose não absorvida é convertida em ácidos graxos de cadeia curta e em gás hidrogênio através da flora bacteriana. Estes são mecanismos de adaptação que os adultos e crianças utilizam para absorver parte da lactose quando não são competentes em sua absorção da maneira usual. Uma curiosidade é que este hidrogênio liberado pelo metabolismo da lactose pelo intestino grosso pode ser avaliado através de teste respiratório, o que é uma alternativa para o diagnóstico da intolerância à lactose.
A deficiência da lactase pode ser primária ou secundária. Como causa primária incluem-se fatores étnicos e raciais, deficiência congênita de lactase e desenvolvimento de deficiência de lactase. No caso das causas secundárias estão as alterações da flora intestinal, enterite infecciosa (giardíase, por exemplo) e lesões na mucosa intestinal (doença celíaca, doença de Crohn e por medicamentos e radiação). A redução da produção da lactase é controlada por fatores genéticos, e se inicia aos cinco anos de idade. No entanto, em alguns povos isto ocorre de maneira mais acentuada do que em outros, o que explica a maior prevalência da má-absorção à lactose em algumas raças.
O termo intolerância à lactose é aplicado a um conjunto de sintomas que ocorrem após a ingestão da lactose. Os sintomas mais relevantes são a dor abdominal, o aumento de gases intestinais e distensão abdominal (“estufamento”), aumentos dos ruídos intestinais, diarreia, e especialmente nos adolescentes, a presença de vômitos. Quanto à dor abdominal, esta é mais comum na região próxima ao umbigo (periumbilical) e nos quadrantes inferiores do abdome. As fezes podem ser volumosas, “espumosas” e aquosas.
O diagnóstico da intolerância à lactose é realizado através de exames laboratoriais. O teste de tolerância à lactose é realizado após a ingestão de 50g de lactose, e a resposta a esta ingestão é monitorada através da dosagem da glicemia por um período de 2 horas. Caso não ocorra a absorção da lactose, não haverá aumento dos níveis sanguíneos da glicose (fruto do metabolismo da lactose) em valores relevantes. Este teste apresenta uma sensibilidade de 75% e de especificidade de 96%. Outro exame realizado é a pesquisa respiratória do hidrogênio exalado (que é liberado no metabolismo da lactose não absorvida), e é um teste simples e não invasivo. O teste respiratório pode apresentar sensibilidade e especificidade maior que o teste de tolerância, mas apresenta um custo maior.
Quanto ao tratamento, este consiste na redução da ingestão de produtos com lactose, sendo os mais evidentes o leite, os queijos brancos e o sorvete. Quanto aos queijos, iogurtes e requeijão, estes costumam apresentar uma concentração menor de lactose. De qualquer forma, o importante é saber que a maioria das pessoas com algum grau de intolerância à lactose consegue conviver com a ingestão controlada de derivados do leite, mas este tipo de adaptação dietética deve ser gradual e individualizada. Além disso, dever haver atenção para que o paciente mantenha uma dieta com níveis adequados de ingestão de proteínas, carboidratos e gorduras. Outra opção de tratamento é a reposição enzimática, o que é feito através da suplementação de lactase. Estes medicamentos podem ajudar na absorção da lactose e diminuir os sintomas decorrentes da ingestão do leite e derivados. É importante lembrar que estes produtos não conseguem fazer com que ocorra absorção completa da lactose ingerida, e que os resultados variam muito de pessoa a pessoa.
Obviamente há uma preocupação em relação à ingestão do cálcio, principalmente pelas mulheres, já que a restrição deste eletrólito e sua deficiência pode se manifestar com aumento da incidência de osteoporose e fraturas. Nestes casos, recomenda-se a suplementação do cálcio, que pode ser feita de maneira fácil e com custo não elevado, e a ingestão de leites sem ou com mínima quantidade de lactose.
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Dr. Fernando ValérioDiarréia Dieta DOENÇAS, EXAMES e TRATAMENTOS Dr Fernando Valério Gastroenterologia Intolerância à lactose Intolerâncias e alergias alimentares Médico-Paciente Nutrologia e Nutrição Síndrome do Intestino Irritável