Mau hálito (halitose): será este um problema do gastro?

Mau hálito (halitose): será este um problema do gastro?


Recebo em meu consultório particular regularmente pacientes com queixas de mau hálito (halitose), e a sua maioria acredita que a principal razão para que este distúrbio aconteça sejam algumas alterações no estômago. Esta impressão é comum, mas equivocada, e é sobre isto que este texto tratará.  A halitose é um problema que afeta de 25 a 30% da população mundial. Didaticamente, a halitose é dividida em três categorias: halitose genuína (que se divide em fisiológica e patológica), pseudo-halitose e halitofobia. A halitose fisiológica é aquela que ocorre pela manhã, após o nosso despertar, e é causada pela diminuição da produção de saliva no período noturno, levando ao ressecamento da mucosa da cavidade oral e ao odor característico. A halitose patológica, que é o tema deste artigo, se caracteriza por odor oral inaceitável e que pode ser causado por uma serie de fatores. Dependendo da origem da causa, a halitose patológica pode ser classificada como oral ou extra-oral. Acredita-se que 80 a 90% dos casos de halitose se originam na cavidade oral, sendo as causas mais comuns as doenças de gengiva, caries e higiene oral inadequada. As causas extra-orais da halitose são a dieta inadequada, o abuso de álcool, tabagismo, certas drogas, e doenças do aparelho digestivo e do aparelho respiratório. Portanto, a pergunta que dá título ao texto está respondida, já que em apenas 10 a 20% dos casos de halitose há uma ligação clara com as doenças do aparelho digestivo. Nos casos em que a halitose não existe, mas os pacientes insistem que sim, o diagnóstico é chamado de pseudo-halitose (“halitose falsa”). De qualquer forma, estes pacientes são tratados, e quando insistem na persistência do sintoma, são diagnosticados como portadores de halitofobia.

A halitose ocorre quando certas substância são exaladas no ar. As substâncias mais comuns são os gases voláteis compostos de enxofre, e que são criadas a partir do metabolismo bacteriano. A cavidade oral é colonizada por mais de 700 espécies de bactéria, e a grande maiorias destas espécies é identificada em pacientes com halitose. Grande parte destas bactérias se localizam na base da língua e em placas dentárias. Alguns estudos recentes mostram a associação da bactéria Helicobacter pylori, que é mais comumente encontrada no estômago, com a presença da halitose, mas o mecanismo para que os sintomas surjam ainda não foi elucidado. A dieta também tem relação com o desenvolvimento da halitose, principalmente em pessoas que ingerem muita proteína e carboidratos, visto que estes alimentos são metabolizados em compostos ricos em enxofre. Os alimentos gordurosos também parecem aumentar o risco de halitose, visto que este tipo de alimento pode predispor o refluxo gastroesofágico. A obesidade é um outro fator de risco importante para o surgimento do mau hálito, já que ela predispõe o refluxo gastroesofágico e alguns distúrbios do sono (apneia do sono, roncos), que levam ao ressecamento da mucosa oral. O tabaco, os refrigerantes e alguns medicamentos também estão associados à presença da halitose.

Halitose oral:

Um adulto saudável produz em torno de 1,5 litros de saliva todos os dias. No entanto, no período noturno esta produção é muito diminuída. Enzimas responsáveis pela decomposição dos alimentos são ativadas com a alteração do pH da saliva, o que gera a formação de gases com os odores característicos. Entre 80 e 90% de todos os casos de halitose ocorrem na cavidade oral, geralmente relacionados com a flora bacteriana da língua. Por isso, a higiene insuficiente da cavidade oral é fator relacionado à halitose. Quanto à parte dentária, a gengivite, as cáries a periodontite e as placas, relacionam-se claramente com a halitose.

Halitose extra-oral:

A halitose extra-oral, que é a parte que mais interessa ao Gastroenterologista quando se pensa em halitose, é causada por outras partes do sistema digestivo. Não é comum, e contribui em menos de 5% para que os casos de halitose ocorram. As causas mais comuns de halitose relacionadas ao aparelho digestivo são o refluxo gastroesofágico e a infecção pela bactéria Helicobacter pylori. Outra causa relacionada à halitose é a presença do divertículo no esôfago, chamado de divertículo de Zenker.

Além disso, a halitose extra-oral pode estar relacionada a distúrbios respiratórios, como a congestão nasal. A congestão leva à necessidade de se respirar pela boca, o que também causa o ressecamento da mucosa. Por isso, pacientes com rinite estão mais suscetíveis ao surgimento da halitose. A drenagem de secreção a partir da parte posterior da cavidade nasal e seios paranasais (como ocorre na sinusite), também devem ser lembradas nos casos de halitose. Nos casos de inflamações da faringe (faringite), há a destruição do tecido desta estrutura, o que permite que as bactérias atuem liberando gases com características sulfúricas. As infecções e inflamações amígdala também fazem parte dos processos patológicos nas vias aéreas e que se relacionam com a halitose, principalmente nos casos de amigdalite crônica.

Algumas doenças sistêmicas também são capazes de gerar o mau hálito, como a insuficiência hepática (devido ao metabolismo da amônia), insuficiência renal crônica e em pacientes diabéticos descontrolados.

Desta forma, o mais importante é que o paciente com halitose seja avaliado por um dentista e por um Otorrinolaringologista. Caso estes especialistas não identifiquem uma causa para tal sintoma, quadros extra-orais deverão ser lembrados como fatores causadores, e os respectivos especialistas (gastroenterologista, pneumologista, clínico geral), indicados.

Leia também:

Refluxo Gastroesofágico:

http://www.drfernandovalerio.com.br/refluxo_gastroesofagico.htm

Gastrite:

http://www.drfernandovalerio.com.br/gastrite.htm

Úlcera Péptica (estômago e duodeno):

http://www.drfernandovalerio.com.br/ulcera_peptica.htm

 

Postado por:

Dr. Fernando Valério