O termo colite se refere à inflamação da mucosa do intestino grosso. Existem vários tipos de colites, como a Doença de Crohn, a retocolite ulcerativa, a colite isquêmica, a colite infecciosa, a colite eosinofílica e a colite microscópica. O objetivo deste texto é discutir sobre a colite microscópica (ou microcolite), que é uma alteração do intestino grosso (cólon) que vem se tornando frequente em nosso meio e que deve ser lembrada como uma possível causa de sintomas digestivos. A microcolite é uma causa muito comum de diarreia crônica, e a sua incidência vem aumentando muito nos últimos 20 anos, principalmente devido a melhoria dos mecanismos e métodos diagnósticos. O termo colite microscópica foi descrito pela primeira vez em 1980 para caracterizar pacientes com diarreia crônica e com mínimas alterações histológicas (microscópicas). Atualmente a colite microscópica se divide em duas formas de comprometimento celular, a linfocítica e a colagenosa.
Mesmo sendo reconhecida como uma doença inflamatória intestinal, sabe-se pouco sobre a colite microscópica quando a comparamos com a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, no entanto, esta alteração vem se tornando cada vez mais comum, e por isso deve ser lembrada pelos médicos como uma possibilidade diagnóstica. Alguns estudos já mostram que a colite microscópica já atinge a mesma incidência das colites mais estudadas, principalmente quando os exames endoscópicos de intestino grosso (colonoscopia) são acrescentados de biopsia, mesmo quando não se percebe alteração na mucosa durante o exame. Também é importante se lembrar que a colite microscópica em 55% dos casos causa sintomas típicos da Síndrome do Intestino Irritável, que é uma doença funcional e não inflamatória. É relatado que até 30% dos casos de colite microscópica foram tratados inicialmente como Síndrome do Intestino Irritável. Lembrando que 20% da população tem o diagnóstico de Síndrome do Intestino Irritável, esta porcentagem de diagnóstico impreciso é bastante alta. Por esta razão, os pacientes com a Síndrome do Intestino Irritável que não respondem bem ao tratamento inicial devem ser submetidos a colonoscopia com biopsia para se excluir a possibilidade de colite microscópica.
Os mecanismos para o desenvolvimento da colite microscópica são pouco entendidos, e os resultados atuais são provenientes de estudos pequenos e com resultados conflitantes. Isso explica o atual pouco entendimento sobre esta alteração intestinal. Alguns autores incluem o tabagismo como um fator de risco importante para o surgimento precoce da doença, comprometendo ambos os sexos de maneira similar. Alguns medicamentos também são citados como tendo relação com o desenvolvimento da colite microscópica, como as anti-inflamatórios (principalmente na forma colagenosa), medicamentos usados para a diminuição da produção de ácido pelo estômago (bloqueador de bomba de prótons), inibidores de serotonina, carbamazepina e sinvastatina.
O principal sintoma associado à colite microscópica é a diarreia aquosa crônica, com mais de 22% dos pacientes apresentando mais de 10 evacuações diarreicas ao dia e mais de 27% apresentando diarreia noturna. Muitos pacientes também apresentam dor abdominal e perda de peso. A colite microscópica é uma alteração benigna, mas que compromete principalmente a qualidade de vida dos seus portadores, com comprometimento social e funcional. Também é importante lembrar que a colite microscópica pode estar associada a outras alterações autoimunes, como disfunções da tireóide, artrite reumatóide e psoríase. A doença celíaca (intolerância ao glúten) também é citada com uma doença relacionada importante, visto que a colite microscópica é de 50 a 70 vezes mais comum nos pacientes portadores de doença celíaca.
O diagnóstico da colite microscópica é estabelecido com o estudo microscópico de biopsias do intestino grosso que são realizadas através da colonoscopia. A avaliação endoscópica é geralmente normal na maioria dos pacientes, mas ocasionalmente pode mostrar vermelhidão e edema da mucosa. Em um estudo interessante foi possível observar a presença de colite microscópica em 1,5% dos pacientes com Síndrome do Intestino Irritável que estavam sendo avaliados, sendo que este índice sobe para 2,3 nos pacientes maiores que 45 anos. O diagnóstico se confirma quando há o aumento de células linfocíticas ou de espessamento da banda de colágeno nos materiais biopsiados.
O tratamento da colite microscópica é baseado na severidade dos sintomas. Qualquer agressor potencial deve ser suspenso, como o cigarro e medicamentos. Em relação à diarreia, agentes antidiarreicos podem ser usados em pacientes com quadro leve para melhora da qualidade de vida. Quanto ao tratamento medicamentoso, anti-inflamatórios (aminossalicilatos) são usados para o tratamento da colite microscópica, mas não apresentam boa resposta na forma colagenosa da microcolite. Nos casos em que há suspeita de má absorção dos sais biliares como mecanismo de inflamação, o uso de quelantes de sais biliares é tentado. Nos casos em que as medidas anteriores não foram suficientes ou quando os sintomas são severos, há a necessidade de uso de corticosteróides no tratamento.
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Dr. Fernando ValérioColites Diarréia DOENÇAS, EXAMES e TRATAMENTOS Dr Fernando Valério Gastroenterologia Nutrologia e Nutrição