O refluxo gastroesofágico corresponde a uma condição desenvolvida quando o conteúdo ácido do estômago reflui para o esôfago e causa uma série de sintomas e complicações. Historicamente, o refluxo gastroesofágico se relaciona com os sintomas de azia, queimação e regurgitação. No entanto, sabe-se hoje que esta doença pode estar relacionada com manifestações extraesofágicas, como por exemplo a tosse crônica, asma, laringite, sinusite, otite, faringite, e erosão dentária. Os quadros de faringite e laringite também se relacionam com a presença de pigarro, saliva espessa e sensação de “bolus” na garganta. O mais interessante deste quadro é que uma minoria dos pacientes que apresentam sintomas extraesofágicos apresentam as queixas clássicas do refluxo gastroesofágico, o que faz com o que o diagnóstico deste quadro seja retardado e não lembrado por alguns médicos. A incidência de pacientes com queixas de refluxo gastroesofágico vem aumentando, sendo que hoje de 20 a 40% da população apresenta queixas relacionadas a esta doença, o que justifica a importância de se estudar o tema.
Existem dois mecanismos que explicam o quadro de manifestações extraesofágicas causadas pelo refluxo gastroesofágico: um mecanismo direto (aspiração do conteúdo gástrico) e um indireto (reflexo vagal). O mecanismo direto envolve a aspiração do conteúdo refluído do estômago para a região da laringe e faringe, causando o reflexo traqueal e brônquico de tosse. Este quadro não ocorre normalmente porque temos um sistema de musculaturas antirrefluxo chamadas esfíncteres, que ocorrem na porção superior e inferior do esôfago. No entanto, quando há o refluxo do conteúdo ácido do estômago para o esôfago, e este conteúdo aumenta muito a pressão intraesofágica, o esfíncter superior do esôfago falha e permite o refluxo para as vias aéreas superiores, comprometendo obviamente a laringe e faringe neste momento. Também é importante lembrar que a combinação de refluxo ácido, refluxo duodenal (bile e suco pancreático) e contaminação microbiana também podem ocorrer no refluxo, e que causam piora evidente dos sintomas extraesofágicos. O segundo mecanismo (indireto) envolve o reflexo de tosse causado por um nervo chamado vago (reflexo vagal). Este nervo é estimulado pela presença de conteúdo ácido refluído no esôfago através de receptores ácidossensíveis presentes nesta região. Como o esôfago e os brônquios têm a mesma origem embrionária, e portanto a mesma inervação, quando o esôfago é agredido e o nervo vago estimulado, pode haver reação brônquica, levando aos sintomas de tosse, asma e dor torácica. Além disso, quando há o reflexo de tosse, há um aumento da pressão intra-abdominal, o que aumenta ainda mais as chances de refluxo gastroesofágico, fazendo com que este evento se torne cíclico e repetitivo.
Quanto ao diagnóstico, ele nem sempre é fácil e evidente. A dificuldade inicial, conforme já exposto, decorre do fato de que não há obrigatoriamente a presença de sintomas clássicos de refluxo para que ocorram as lesões e sintomas extraesofágicos. Além disso, os exames disponíveis nem sempre relacionam a presença dos sintomas com os momentos em que ocorreu o episódio de refluxo. De qualquer forma, nos casos em que não há uma boa resposta com o tratamento inicial, recomenda-se a realização de pHmetria esofágica de 24 horas. Neste exame monitora-se a presença de conteúdo ácido no esôfago através de um cateter colocado por via nasal.
Em relação ao tratamento, ele consiste de cuidados habituais para refluxo gastroesofágico, utilizando-me medicação que diminua a produção de ácido pelo estômago, dieta fracionada, intervalo de duas horas entre a última refeição e o momento de se deitar, e dieta sem gorduras, refrigerantes, álcool, doces (principalmente chocolate) e alimentos ácidos.
Leia também:
Refluxo Gastroesofágico:
http://www.drfernandovalerio.com.br/refluxo_gastroesofagico.htm
Esôfago de Barrett:
http://www.drfernandovalerio.com.br/blog/2009/05/14/esofago-de-barrett-medicacao-ou-cirurgia/
Fonte Imagem: Mundo Educação
Postado por:
Dr. Fernando Valério
