A Doença Celíaca, também chamada de espru celíaco, espru não-tropical e enteropatia sensível ao glúten, foi descrita inicialmente em 1888 por Samuel Gee. Esta doença é uma alteração do intestino (enteropatia) determinada pelo sistema imunológico, com predisposição genética associada. Os sintomas são desencadeados pela ingestão de alimentos contendo glúten. O glúten é uma proteína de armazenamento do trigo, do centeio e da cevada. Alguns estudos sugerem que a aveia pode conter glúten. A prevalência da Doença Celíaca varia de uma pessoa acometida para cada 100 a 300 pessoas. Parentes de primeiro e segundo graus de pessoas confirmadamente acometidas pela intolerância ao glúten têm um risco aumentado de desenvolver a doença em algum período de suas vidas, sendo este risco de 10% a 5%, respectivamente.
Devido ao comportamento variado em relação aos sintomas que os portadores da Doença Celíaca apresentam, este são classificados em três grupos principais:
Apesar de classicamente a Doença Celíaca ser uma doença intestinal que se inicia na infância, os sintomas podem se apresentar em pessoas entre 10 e 40 anos. Os sintomas mais comuns são dor abdominal recorrente, aumento de gases intestinais (flatulência), aumento de ruídos intestinais, diarreia, fadiga (relacionada a anemia), fezes mal formadas, gordura nas fezes e alterações nutricionais (vitaminas B e D, cálcio, ferro). Uma característica que sempre deve ser levada em consideração é a melhora nítida dos sintomas com a retirada do glúten da dieta. Além disso, a Doença Celíaca pode estar relacionada a outras alterações autoimunes, como o Diabetes mellitus tipo 1, disfunção da tireóide (tireoidite), dermatite herpetiforme e hepatite autoimune. Outras alterações gastrointestinais, como a Síndrome do Intestino Irritável e a retocolite ulcerativa idiopática, também estão associadas à doença Celíaca. Na retocolite ulcerativa, a presença de intolerância ao glúten é 10 vezes maior que na população geral. Há ainda relatos de risco de desenvolvimentos de alterações malignas gastrointestinais e linfoproliferativas, principalmente o linfoma não-Hodgkin.
Na prática clínica, o diagnóstico da Doença Celíaca é determinado pelos sintomas clínicos, pelos achados de biópsias intestinais e pelos achados sorológicos (anticorpos encontrados no sangue). Os sintomas e as doenças associadas foram descritas acima neste texto, e por isso focarei o diagnóstico agora nos exames complementares. Atualmente, a confirmação do diagnóstico ocorre com a realização de biópsia do intestino com alterações compatíveis com a Doença Celíaca e a confirmação da presença de anticorpos específicos ao glúten e ao tecido comprometido. Nos casos em que houve a confirmação do diagnóstico com biópsia e melhora após a retirada do glúten da dieta, não há necessidade de se repetir as biópsias intestinais para controle. As alterações intestinais clássicas são a atrofia das vilosidades da mucosa, hipertrofia das criptas e aumento de linfócitos intraepiteliais. Estas alterações são mais comuns nos segmentos intestinais mais proximais, mas nos casos mais severos, os achados também são encontrados em segmentos mais distantes. Sendo assim, é fácil entender que há uma relação entre a intensidade das alterações intestinais e a presença dos sintomas da doença.
Quanto aos exames sorológicos específicos à Doença Celíaca, os mais importantes são os anticorpos anti-glúten e os auto-anticorpos. Os primeiros são representados pelos anticorpos IgA e IgG anti-gliadina. Como há uma relação entre doença Celíaca e deficiência de imunoglobunia A (IgA) é importante que a imunoglobilina G seja dosada. Quanto aos auto-anticorpos, eles são representados pelos anticorpos anti-endomísio e anti-transglutaminase tecidual.
Em relação ao tratamento, este consiste na retirada completa da dieta com glúten por toda a vida, o que representa a proibição da ingestão de alimentos que contenham trigo, centeio, cevada e aveia. Deve-se estar atento também a alimentos e até medicamentos que contenham estas substâncias. A aveia não traz problemas para 95% dos pacientes com Doença Celíaca, mas para um grupo pequeno este alimento não é indicado. A completa retirada do glúten da dieta resultará em controle completo dos sintomas, dos exames de sangue e alterações intestinais. Aproximadamente 70% dos pacientes apresentam melhora após duas semanas de controle da dieta e completa exclusão do glúten. Mantendo a dieta com seriedade, o paciente portador da Doença Celíaca terá uma vida completamente normal.
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Dr. Fernando ValérioDiarréia Dieta DOENÇAS, EXAMES e TRATAMENTOS Dr Fernando Valério Gastroenterologia Intolerância ao glúten (Doença Celíaca) Intolerâncias e alergias alimentares Médico-Paciente Nutrologia e Nutrição