Síndrome do Intestino Irritável (SII): quais as causas desta doença?

Síndrome do Intestino Irritável (SII): quais as causas desta doença?


A Síndrome do Intestino Irritável (SII) afeta de 10 a 20% da população, e por isso a sua enorme importância médica. Descreve-se que mecanismos periféricos resultam nos sintomas da SII, e o entendimento destas causas é algo fundamental para os pacientes portadores da síndrome, visto que assim conseguem administrar muito melhor os sintomas e seguir os tratamentos prescritos, além de um melhor controle emocional sobre a doença. Como a Síndrome do Intestino Irritável apresenta inúmeras teorias como explicação para os sintomas e tratamentos variados, é importante que o médico seja capaz de elucidar aos seus pacientes o caminho que está seguindo tanto no diagnóstico da doença como no seu tratamento, e o paciente deve solicitar este tipo de informação.

O diagnóstico da SII é tradicionalmente baseado nos sintomas de dor abdominal recorrente por pelo menos três dias nos últimos três meses,  em associação com dois ou mais dos seguintes sintomas: melhora dos sintomas com a evacuação, alteração do ritmo intestinal (diarreia, constipação, aumento de frequência de defecação) e alteração na forma das fezes. Além disso, sintomas como gases intestinais, muco nas fezes, ruídos intestinais aumentados, sensação de evacuação incompleta e dispepsia podem estar presentes. No passado, a SII era geralmente associada a alterações no músculo do intestino, hipersensibilidade e hipervigilância do Sistema Nervoso Central, o que significava um distúrbio de interação entre o cérebro e as partes periféricas do sistema nervoso que se localizavam no intestino, o que obviamente causavam distúrbios que resultavam nos sintomas descritos acima. No entanto, sabe-se hoje que os sintomas não são relacionados apenas a um único agente etiológico (razão), e sim resultante da combinação de diversos mecanismos periféricos que perturbam as atividades motoras e sensoriais do intestino. Assim, discutiremos estes mecanismos a seguir:

  • Trânsito cólico anormal e distúrbios de evacuação: Os sintomas mais comuns são a constipação e a diarreia. Aproximadamente 25% dos pacientes com constipação têm o trânsito intestinal mais lento, e são tratados com medicamentos que aceleram este trânsito, aliviando também os sintomas relacionados de dor abdominal e gases intestinais. Distúrbios de defecação também existem, como espasmo da musculatura do períneo, e geram a sensação de evacuação incompleta. Os distúrbios de defecação devem ser suspeitados quando o paciente não responde bem à ingestão de fibras e laxantes comuns. A diarreia é o sintoma inverso da constipação, e ocorre entre 15 a 45% dos pacientes com SII.
  • Fatores luminais e de mucosa:  Estes fatores ativam os mecanismos imunológicos, motores e sensoriais do intestino delgado e do grosso (cólon). A dieta pode ser um enorme desencadeante destes mecanismos, principalmente quando se trata dos alimentos gordurosos e  frituras. Além disso, alimentos mal-absorvidos e mal-digeridos, como os açúcares (lactose, frutose e sorbitol) podem gerar sintomas de SII, o que se explica pela dificuldade destes pacientes em digerir carboidratos complexos. Outra substância conhecida como desencadeante de sintomas em alguns portadores de SII é o gluten, e isto ter uma frequência 5 vezes maior do que na população em geral quando há uma predisposição genética. Os ácidos biliares que são produzidos no fígado também podem levar a presença de sintomas, visto que alguns pacientes apresentam o que se chama enteropatia colérica com diarreia. Isto se deve à má-absorção de ácidos biliares pelo intestino ou pelo excesso de produção dos mesmos, o que está presente em 30% dos pacientes com SII com predominância de diarreia. Outro fator muito importante é a microbiota fecal e da mucosa (flora intestinal), mas com uma relação ainda mal estabelecida, em que algumas a presença  ou a ausência de algumas espécies de bactérias podem levar a presença de aumento de trânsito intestinal ou de diarreia. Desta Esta relação é descrita por que há resposta clínica com o uso de alguns antibióticos e de pro-bióticos no tratamento da SII. A flora intestinal causa alterações funcionais que podem induzir a presença de sintomas devido à interações entre a flora e fatores luminais.
  • sinais enteroendócrinos: A liberação de alguns peptídeos e aminas, como a serotonina, por parte de células enteroendócrinas  (células do intestino que produzem hormônios) seriam desencadeantes de sintomas. A serotonina está claramente aumentada em pacientes com diarreia e diminuída em pacientes com constipação.  As células enteroendócrinas também podem produzir uma proteína chamada granina, que está presente de forma mais acentuada nos pacientes com trânsito intestinal mais rápido. O melhor exemplo das graninas é a cromogranina.
  • ativação imunológica com mínima inflamação: Há evidências de inflamação ou ativação do sistema imunológico no sangue em alguns pacientes com SII. Quanto à presença destas células na mucosa intestinal, esta conclusão ainda é inconsistente.
  • fatores genéticos: alterações genéticas podem ser capazes de gerar uma série de eventos que culminaria com os sintomas da SII, como a predisposição para a inflamação, síntese de ácidos biliares e secreção intestinal.

A Síndrome do Intestino Irritável  é classicamente descrita como uma alteração intestinal idiopática que se origina do estresse psicológico e de disfunção cerebral. Exames e testes de fezes e a colonoscopia indicam a ausência de inflação ou de tumores no intestino. Pacientes que não respondem bem às mudanças de hábitos de vida e de dieta, além de medicamentos, são submetidos a pesquisa de outros fatores que explicassem os sintomas, o que inclui o trânsito cólico e defecograma, testes de tolerância e absorção de alguns alimentos e pesquisa de ácidos biliares nas fezes. Atualmente, no entanto, os fatores descritos acima, como a relação com a dieta, irritantes da mucosa intestinal, ativação da imunidade e fatores genéticos, também devem ser avaliados. Provavelmente estudos futuros concluirão que a Síndrome do Intestino Irritável resulta da interação do meio em que vivemos, nossos hábitos de vida e dietéticos, além dos fatores genéticos. Assim, avanços mais específicos e individualizados serão alcançados para o tratamento da SII, identificando-se a causa dos sintomas presentes em cada caso.

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Postado por:

Dr. Fernando Valério