A obesidade e as suas complicações no sistema digestivo.

A obesidade e as suas complicações no sistema digestivo.


A obesidade é a principal doença e causa de óbito em todo o Mundo, podendo-se atribuir à ela o título de maior problema de saúde endêmico dos tempos modernos. Para que se tenha uma ideia, a obesidade é considerada o maior desafio de saúde pública do século atual, como mais de 1,6 bilhões de pessoas estando acima do peso ideal (sobrepeso) e 400 milhões obesas. A maior preocupação da obesidade é que ela é um fator de risco importante para algumas das doenças mais prevalentes do Mundo, como a doença coronariana, acidente vascular cerebral, diabetes, hipertensão arterial sistêmica e osteoartrite. Além disso, alterações digestivas comuns também se relacionam com a obesidade, como o refluxo gastroesofágico, a esofagite, a esteatose hepática, os cálculos de vesícula biliar, e com o aumento da incidência de alguns cânceres neste sistema.

O aumento da prevalência da obesidade e do refluxo gastroesofágico em populações ocidentais durante os últimos 50 anos sugerem uma clara associação entre estas duas condições, o que se comprova por meio de muitos estudos sobre o tema.  Estes estudos mostraram um aumento da incidência de refluxo gastroesofágico em torno de uma a duas vezes e meia em pacientes com aumento do índice de massa corpórea, assim como as complicações desta doença, como a queimação retroesternal (azia), regurgitação, esofagite erosiva e câncer de esôfago. O aumento do diâmetro abdominal também estava relacionado ao aumento da incidência de esôfago de Barrett, que é uma adaptação da mucosa do esôfago ao trauma causado pelo líquido refluído. Esta relação entre a obesidade e o refluxo decorre da redução da pressão do esfíncter (músculo) inferior do esôfago, da presença de hérnia de hiato, aumento da pressão intragástrica (dentro do estômago) e alteração da motilidade do esõfago, que são alterações decorrentes do excesso de peso.

Na vesícula biliar, a obesidade está associada à formação de cálculos de vesícula, que ocorre com incidência de 2 a 3 vezes maior que na população geral, principalmente nas mulheres. O aumento do índice de massa corpórea também se associa ao câncer de vesícula nas mulhreres, mas não nos homens. Quanto ao fígado, a presença de esteatose hepática (acumulo de gordura no fígado), cirrose hepática e câncer hepático são associados com a obesidade. Na população geral, a incidência de esteatose hepática é de 3 a 24%, mas sobe para 58 a 74% em obesos.

O aumento de peso está também relacionado com o aumento de risco de desenvolvimento câncer de intestino grosso (duas vezes mais, principalmente em homens) e de pólipos adenomatosos (precursores do câncer intestinal). A incidência deste tumor é diretamente proporcional ao aumento do índice de massa corpórea e da circunferência abdominal.

Sabe-se que uma pessoa obesa gasta em média 42% a mais por ano com tratamentos médicos do que alguém com peso adequado, o que também reflete um problema social e financeiro da obesidade. Em um País em desenvolvimento como o nosso, este dado é extremamente relavante. Quanto ao grande número de alterações digestivas associadas ao aumento de peso, é comprovado que a redução do peso traz diminuição da incidência e do risco de progressão destas doenças. Desta forma, o cuidado com o peso extrapola e muito a simples questão estética que está ligada a esta doença tão comum em nosso meio. Por isso, busque ter uma dieta saudável e mantenha a prática de exercícios físicos como um hábito. Se necessário, tenha acompanhamento de profissionais habilitados, como nutricionistas, preparadores físicos e médicos.

Dados do autor:
Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista, Nutrólogo e Proctologista
São Paulo, SP
Consultas: particulares e Omint

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Dr. Fernando Valério