Escola e Pais: esta relação está doente?

Escola e Pais: esta relação está doente?


Caros leitores, no último dia 29 de abril de 2010, a psicóloga e consultora educacional, Rosely Sayão, publicou um texto chamado “Perdão às mães” (http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/), e que trouxe imensa repercussão entre pais e escolas. Neste artigo a Dra. Rosely faz uma crítica muito firme em relação às escolas, que segunda ela, abusam das informações que solicitam aos Pais sobre a vida em Família, sem utilizar estas informações em benefício das crianças, invadem a privacidade, empurram a responsabilidade da docência para os Pais e não sabem lidar com alunos que não são exemplares ou pelo menos medianos. Quanto ao artigo publicado por ela, primeiramente acredito que o texto é interessante porque nos leva a refletir sobre a mesmice em que se encontra a relação entre Pais e Escola, principalmente quando há autoritarismo de alguma das partes, ou dos Educadores profissionais ou dos Pais pagantes. No entanto, acredito que na tentativa de chamar a atenção para o tema, houve certo exagero da autora, já que somos frutos desta maneira de educar e ainda assim nos tornamos relevantes para a Sociedade.

Atualmente, principalmente com o advento da Internet e a transmissão e aquisão de conhecimento de forma viral, principalmente para os mais interessados, cada vez mais temos chances de ter entendimento sobre um assunto, e desta forma acredito que a Pedagogia, assim como os profissionais que nela atuam, estejam reciclando a sua forma de pensar, o que não significa que tudo o que foi feito até hoje foi apenas um teatro ou uma atividade sem propósito, e que a Escola se limitou apenas a ”bisbilhotar” a vida das Famílias sem uma razão clara para isto. O entendimento amplo das informações que cercam qualquer pessoa facilitam o entendimento de dificuldades focais, e quando detalhes são banalizados, as possibilidades de erros de avaliação e conduta aumentam de forma muito significativa.

A Escola, obviamente não tem a função de educar os nossos filhos, que é e sempre foi uma responsabilidade da Família, mas participa da socialização e transmissão de conhecimentos para eles de forma muito relevante. Também atua como um pequeno Mundo em que as regras familiares podem ser aplicadas e até mesmo testadas pelas crianças, que aprenderão sobre os benefícios e consequências das suas atitudes, e por isto o tempo usado para a transmissão de conhecimentos técnicos também pode ser aproveitado como um laboratório da vida, mas com a orientação de pessoas estudadas e capazes, que atuam como tutores.

Mas lembro, vivemos em uma geração de Pais “ocupados” demais, em que as crianças são criadas por pessoas contratadas e com pouco preparo educacional, e que recebem o título de “Babás”. Estas funcionárias, que hoje recebem salário para educar grande parte das crianças de classe média e alta, que tem como patrões os Pais e a própria criança, vive em uma linha de fogo em que não agradar ao pequeno contratante, a criança, pode significar a sua própria demissão e a falta de provento à sua Família. Mais ainda, temos Pais que trocam a responsabilidade dura e cansativa de educar os seus filhos, por uma “amizade” forçada com a sua própria prole e que é muito comercial, em que brinquedos e mimos são a moeda do falso amor. Neste caso, a Escola se impõe como poucos, critica de forma clara este tipo de orientação infantil, o que obviamente sempre a torna vencedora da discussão, já que os Pais falharam, o que é inegável. E aí a autora tem razão, a escola quer educar os Pais, pode interferir na vida familiar e nem sempre traduz a discussão em benefício da criança, tornando-se apenas uma crítica. Sinceramente, vejo que algumas Escolas adoram este tipo de situação, já que é fácil “bater em bêbado”, e a argumentação é sempre fácil para o pedagogo. Acredito que esta abordagem com os Pais ausentes e mimadores poderia ser mais produtiva e menos julgadora.

E o contrário, quando os Pais são presentes, realmente educam os seus filhos, e se sentem no direito de questionar e argumentar com a Escola, como fica a relação? Como Pai, este é o comportamento que adoto, e já percebi na própria pele que a Escola se perde quando os Pais deixam de ser o alvo fácil e óbvio, porque não deram razão para isto, e agora a própria Escola tem que discutir de igual para igual com adultos responsáveis e comprometidos com a educação dos seus filhos. Certa vez, o meu filho inocentemente deu um beijo na boca de uma coleguinha de turma, e a professora dele, mais do que imatura e inconsequente, insinuou que eu e a minha esposa exagerávamos com os carinhos físicos na presença dele, o que jamais ocorreu. Esta invasão não pode existir, ainda mais quando não há fundamento para ela.

Este foi simplesmente o meu ponto de vista, que na prática também pode não resolver muita coisa, mas que define uma regra de ouro: não faça para os outros o que você não quer que façam com você!. Os Pais e a Escola têm que entender o seu limite da sua atuação, não invadindo ou se esquivando das suas funções, e jamais perdendo o foco da real educação, que é preparar as crianças para que elas sejam cidadãos relevantes, honestos, produtivos e dignos para viverem em grupo.

Postado por:

Dr. Fernando Valério