Há algumas semanas atrás, eu e minha esposa recebemos um convite para que o meu filho mais velho, chamado Guilherme, representasse o clube do qual somos sócios (São Paulo Futebol Clube) em uma atividade esportiva no clube Hebraica (São Paulo). A atividades se caracterizavam por uma gincana de esportes adaptadas para crianças de cinco a seis anos, e incluia as modalidades esportivas futebol, voleibol, handebol e basquete. Obviamente isto ocorre frequentemente com todos os Pais e filhos que estão envolvidos em atividades de clubes e associações esportivas. No entanto, o que me faz escrever sobre aquele dia não é simplesmente contar sobre um dia em Famíia, o que obviamente é muito recompensador, e sim descrever algumas atitudes do meu filho que foram surpreendentes quando se pensa em liderança. E por sinal, a melhor liderança, aquela que se baseia no exemplo, já que o seu comportamento por si só, já foi muito inspirador. Como disse Albert Einstein: “o exemplo não é a melhor forma de influenciar pessoas, é a única”.
Logo que a minha esposa Renata lhe comunicou sobre o convite que havia recebido, ele apresentou a primeira boa característica de um líder, a motivação. E não foi pequena, já que ele falou com grande empolgação sobre o dia em que teria que jogar pelo clube. Além disso, ele comentava que jogadas faria em cada esporte, o que o remete a um segundo modo de vencer e liderar, que é se preparar mentalmente e simular previamente que conduta tomar em situações diversas durante uma atividade, no caso dele, esportiva. Esta atitude é muito importante, porque quando refletimos com antecedência sobre tudo o que poderemos encontrar em uma atividade específica, internalizamos o que faremos em cada cenário, e diminuímos muito as chances de sermos supreendidos. Dominamos o inesperado com maior tranquilidade.
Quanto chegamos ao clube Hebraica, como Pais ficamos um pouco apreensivos, já que este era um evento grande, em um ambiente novo e com vários clubes envolvidos. Além disso, sabíamos que o Guilherme é discreto e reservado, e tínhamos em mente a possibilidade de que ele ficasse muito acanhado diante daquela situação. Erramos feio. Ele estava extremamente ansioso para que o dia de batalhas se iniciasse, e aí ele começou a liderar novamente. Em vez de ficar aguardando com os Pais o início do dia esportivo conforme orientado, ele se juntou ao colegas de Clube, conversou com eles e tirou fotos. Foi integrar um grupo. Por sinal, ao final das atividades, ele me relatou os resultados: ganhamos quatro vezes, empatamos uma, e perdemos duas. Observem, ele não disse eu ganhei ou eu perdi, o que seria normal, já que a criança é egocêntrica por natureza. O grupo ganhou e perdeu junto. Mais que isso, em nenhum momento ele criticou algum integrante do seu time, mesmo quando eu o estimulei. Após o evento eu comentei que ele deveria ter sido goleiro no futebol, já que ele desempenha muito bem esta função, e ele me respondeu: “o meu colega não sabe jogar, só sabe ser goleiro, e eu sei que sou melhor que ele. Mas não faz mal, se eu tivesse sido goleiro não teria feito aquela jogada que todo mundo gostou (e fez mesmo)”. Também é importante salientar que ele lidou bem com os resultados negativos e positivos, tratando do assunto com naturalidade. É claro a todos que perder não é tão saboroso quanto ganhar, mas nos ensina muito mais. Só não pode virar hábito. Por outro lado, saber ganhar é um ato de humildade que deve ser reforçado. Os grandes líderes sabem disto.
No momento em que os jogos se iniciaram a felicidade tomou conta dele e dos Pais. Ele se divertiu muito com aquilo, e aí ficou clara mais uma face do vencedor e líder. Para um bom desempenho em qualquer atividade é necessário que se goste do que se propõe a fazer, e que acima de tudo, isto nos traga prazer. Se altos executivos e empresários se lembrassem disto de vez em quando, teriam uma vida muito mais feliz. Obviamente não poderia esquecer de relatar a dedicação extrema que ele apresentou. Em alguns instantes achamos que ele sairia machudado dali, tamanha a intensidade com que corria, se jogava ao chão em busca das bolas, e não fugia do contato físico quando ele se tornava necessário. Aí ele me conquistou de vez. Se há algo que admiro nos verdadeiros líderes é a capacidade de perseverar e de se esforçar de maneira quase “paranóica” em busca de um resultado.
Se eu já estava feliz ao máximo, devo ser sincero que ele tocou em um outro ponto que eu considero fundamental quando se trata de liderar alguém, a ética. Durante todo o período de atividades ele respeitou os adversários, colegas de clube, professores e juízes, e jamais usou de algum subterfúgio para conquistar algum ponto ou para nos agradar. Também soube se posicionar com respeito e consideração aos juízes, demonstrando que hierarquia faz parte do processo de crescimento. E ao final, ele deu uma lição maravilhosa de como se encerra uma conquista, a celebração. Em meio a tanta gente desconhecida, ele recebeu a sua medalha e segurando-a, exibiu-a para o público presente. De que adianta vencer e conquistar se não sabemos valorizar e nos alegrar com as nossas conquistas. Confesso que foi de arrepiar, e não somente aos Pais, já que as próprias professoras tiveram a mesma sensação.
Foi um dia muito especial, e não somente porque foi um momento de confraternização de Pais e filho, ou porque ele foi premiado. Foi mais que isto, foi uma clara demonstração de que passar insistentemente aos nossos filhos conceitos morais, de que as conquistas são frutos de esforço e preparação constante, e que o esporte orientado por profissionais sérios é uma ótima fonte de aprendizado e desenvolvimento pessoal.
Valeu Gui! Você foi muito inspirador e admirável.
Postado por:
Dr. Fernando Valério