Há 10 anos em Roland Garros, um torneio de tênis realizado em Paris e considerado um Grand Slam, ou seja, um dos quatro torneios de tênis mais importantes do Mundo, foi vencido por um brasileiro de 20 anos, até então desconhecido por todos. Este jovem, nascido em Florianópolis, órfão de Pai, irmão de um rapaz com paralisia cerebral, acabava de se tornar um ídolo do Brasil, sem ao menos ter recebido apoio de qualquer outro brasileiro para que ele chegasse a esta condição. Nascia um mito chamado Gustavo Kuerten, o “Guga”. O meu objetivo com este artigo não é fazer uma crônica esportiva, e sim mostrar através da história do Guga que os ídolos do nosso País se formam sem qualquer apoio, são uma exceção e quase um milagre, mas que logo que alcançam o sucesso, são massacrados por todos aqueles que nunca os ajudaram.
O Guga vem de uma família de classe média de Florianópolis, e ao contrário da maior parte dos jogadores de futebol, nunca passou necessidades gritantes ou morou em Favelas. Mesmo assim, tornar-se um Campeão Mundial requer muito esforço e dinheiro, coisa que a sua Família obviamente não teria como sustentar. Neste momento, surge uma figura chamada Larri Passos, um gaúcho amigo do Pai de Guga, e que cumpre a promessa de treiná-lo, como se fosse um filho. Nos países desenvolvidos, o Guga faria parte de uma grande academia de tênis, sem qualquer custo, e pelo contrário, os seus estudos seriam pagos, assim como despesas de moradia e alimentação. Aqui não, ele dependeu do esforço de um amigo do seu Pai, algo muito mais do que amador e sonhador.
Mas aí vem o grande dia, e o “Manezinho da Ilha” se torna Campeão em Roland Garros (junho de 1997). Nesta hora, o Presidente da República se pronuncia, o Governador de Santa Catarina faz uma festa para recepcioná-lo e homenageá-lo, e o Prefeito de Florianópolis tenta tirar uma casquinha do sucesso alheio. Aonde eles estavam antes disso, quando milhares de jovens assim como o Guga, também gostariam de ter acesso a uma boa preparação em suas atividades, sejam elas esportivas ou acadêmicas. No Brasil só se observa a conclusão da história, e poucos levam em consideração os caminhos trilhados ou a necessidade de apoio neste período. Pior que isso, nesta hora vem a cobrança em cima de um jovem que nunca recebeu um patrocínio digno até se tornar campeão, e ele passa a ser o remédio de todas as nossas frustrações como País, como se ele tivesse que nos dar satisfação e vencer sempre. Atualmente, a imprensa tem o descaramento de opinar de forma grosseira se ele deve abandonar a própria carreira. Ela deveria ter sido ativa no início, e não somente no meio (no sucesso) e no fim (na decadência).
Enquanto alguns medíocres e invejosos criticam o atual momento do Guga, já que ele não dá tanto Ibope às grandes emissoras de televisão por não vencer torneios importantes como há alguns anos, neste final de semana ele foi convidado pela organização do Torneio de Roland Garros a entregar o troféu de campeão na cerimônia de encerramento, como forma de homenageá-lo pelo décimo aniversário da sua primeira conquista neste torneio (que ele venceu três vezes).
Os franceses o idolatram, e os brasileiros o banalizam. É por isso que existem países com tradição, e países com lembranças descartáveis. Os ídolos são exemplos de perseverança, de esforço, de superação, e é por isso que gozam de tanto respeito em países que admiram estas qualidades. Aqui não.