Que os nossos Pais nos ajudem!

No último final de semana levei o meu filho à Academia de Natação onde ele faz aula, para que fosse realizado o exame médico obrigatório. Obviamente, como médico, achei um desperdício de tempo e de dinheiro, mas não quis contestar as regras do local, aceitei a “consulta” e fiz o pagamento. No entanto, ao conversar com a médica que realizava o exame, pude mais uma vez observar como este País é segregador em relação ao crescimento profissional e ao acesso à Educação. Neste artigo contarei a história desta médica recém-formada, a compararei com a minha, e assim você poderá entender as diferenças das nossas carreiras e dos seus resultados, e de como dependemos unicamente dos esforços das nossas Famílias para podermos crescer.
A médica em questão acabou de se formar em Medicina, e por coincidência, na mesma Faculdade que eu. E a partir daí tudo começa a ficar diferente para nós dois. Ela prestou uma única prova de Residência Médica, já que só tinha condições financeiras para prestar um teste, em Psiquiatria, e passou. Ou seja, neste momento ela conseguiu algo mais difícil do que se passar no Vestibular de Medicina, que é ser aprovada em um exame de Residência, lembrando que ela só teve esta chance. E por sua vez, a Sociedade acabou de receber a oportunidade de ter mais um profissional realmente habilitado para o atendimento médico. Só que para a minha surpresa, ela me disse que abandonou a vaga conquistada e não fez a matrícula: “eu não teria condições de pagar o transporte, e preciso colocar dinheiro em casa”. Foi neste momento que as nossas carreiras seguiram caminhos totalmente diversos. Eu, ao contrário dela, nunca precisei trabalhar enquanto não acabei a minha formação médica, ou seja, dediquei-me exclusivamente aos estudos. Mais do que isto, os meus Pais colocaram à minha disposição qualquer tipo de literatura médica que eu necessitasse, e por várias vezes estudei em livros importados e caros, além de ter transporte próprio e acesso irrestrito à tecnologia, como a Internet. Hoje, ela trabalha fazendo exames médicos de Academias e atendendo em Pronto Socorros, sem ter uma preparação específica para isto, e colocando em risco a vida de muitos pacientes, assim como a sua própria carreira. Eu, por outro lado, prestei várias provas de Residência, e ainda pude escolher aonde iria estudar. Nesta mesma fase da vida, eu estava dando os meus primeiros passos no Hospital Sírio Libanês, onde depois, tive a oportunidade de trabalhar, e conhecer de perto um centro de excelência no atendimento médico. Será que algum dia ela conseguirá trabalhar em um grande Hospital como este? Eu acho que não.

Eu tenho certeza que este texto fala por si só, mas não posso deixar de mostrar a indignação que tenho pelos políticos deste País, que se recusam a fazer as reformas Tributária e Trabalhista, o que favoreceria o aumento de empregos formais e aumentaria a renda das Famílias, que lutam para diminuir a própria carga horária de trabalho e para aumentar os seus salários, que não primam em nada pela ética, que trocam favores para manter a CPMF sem lembrar que ela nos penaliza cada vez que compramos um litro de leite ou um livro, e que amputam, sem anestesia, o desejo e a necessidade de crescimento dos jovens deste País.

Que você possa contar com os seus Pais, porque não poderá contar com o seu País.

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