Em 2002, eu fazia parte de uma das maiores equipes de Cirurgia Digestiva do Hospital Sírio Libanês, além de ser plantonista da Unidade de Internação deste Hospital. Para que você tenha uma idéia do que isto representa, cheguei a atender três ex-Presidentes da República, dois ex-governadores de São Paulo, e inúmeros empresários e esportistas conhecidos por todos. Só que, em determinado momento, percebi que eu não passava de um coadjuvante, que a minha dedicação (que não era pequena) não deixava de ser um auxílio, que estes não eram os MEUS pacientes. Neste momento, tomei a decisão mais importante da minha carreira: deixei esta equipe e abri o meu consultório.
No primeiro mês de consultório recebi R$70,00, e não ache que eu esqueci de algum zero neste número. Obviamente este valor era incompatível com o salário da secretária, do contador, do IPTU e das linhas telefônicas. No entanto, foi o melhor salário que já conquistei na vida, pois foi o MEU salário, referente ao atendimento do meu primeiro paciente próprio. Fica aí a primeira lição: economize para que você possa suportar a fase inicial do seu novo empreendimento.
Fica claro que abandonar uma equipe deste porte traz repercussões sérias à sua carreira. Ninguém gosta de ser desprestigiado, principalmente por um “moleque” de 29 anos. Um dos meus chefes, até me indicou uma psicóloga, pois ele achava que eu estava “perturbado”, e que precisava de ajuda especializada. Neste período, os meus amigos se afastaram de mim, pois ficaram com medo de ver suas carreiras respingadas por decisões minhas. Na verdade, eles estavam decidindo se me achavam louco, ou apenas um idiota. Hoje, eles fazem parte da MINHA equipe de cirurgia, e têm a certeza de que eu fui corajoso. Mas nunca perca de vista que o que separa o corajoso do louco, é o maior preparo e dedicação do primeiro. Segunda lição: quem mais deve acreditar nos seus sonhos é você mesmo, e esteja muito bem preparado e focado para realizá-los.
Mesmo durante este período turbulento, fui convidado a ser o Chefe dos Plantonistas da Unidade de Internação do Hospital Sírio Libanês. Muitos dariam a vida por este cargo. O “moleque” recusou (devem ter achado que eu estava perturbado mesmo!). Recusei por não aceitar a falta de clareza nas medidas a serem tomadas, principalmente no que se tratava de benefícios injustificados a alguns médicos, além de argumentos muito nebulosos para demissões. Como não aceitei, fui vítima desta nebulosidade. Fui convidado a me retirar da equipe de Plantonistas através de um telefonema, às 21 horas, quando jantava
Hoje, sinto-me realizado e feliz. Mostrei às pessoas que eu amo que se esforçar, se dedicar e acreditar muito vale a pena. Mostrei que não estava perturbado, estava apenas conquistando o meu espaço. Mais do que isto, posso me considerar alguém muito especial: sou daqueles poucos que já realizou um grande sonho.
Como escreveu Stephen Kanitz, se você acredita na sua capacidade, mude de emprego, procure companhias que valorizem o seu talento, que tenham critérios de avaliação claros e baseados
“Os covardes nunca tentam. Os fracassados nunca terminam. Os vencedores nunca desistem”.
Postado por:
Dr. Fernando Valério