Todas as semanas recebo e-mails de pessoas que relatam informações médicas sobre os seus casos clínicos e que não foram discutidas com os seus médicos. Motivo: vergonha. É óbvio que a internet permite uma discussão impessoal sobre os mais variados assuntos, mas quais serão as conseqüências da sonegação de fatos e sintomas em relação aos diagnósticos que serão efetuados e, pior, aos tratamentos prescritos?
A minha maior preocupação com este tipo de relacionamento médico-paciente é que a falha de comunicação pode gerar uma série de erros, e que na verdade o maior prejudicado será o próprio paciente. Lembrem-se que o médico não é o juiz ou auditor das atitudes que tomamos em nossas vidas, e que a consulta médica é uma troca de informações em busca da resolução de um problema de saúde, e não um julgamento.
Os médicos devem ter por objetivo extrair o máximo de dados relevantes aos casos clínicos dos seus pacientes, mas para isto, os pacientes devem se sentir confortáveis, confiantes e ter a certeza de que este interesse é sincero. Nas minhas consultas sempre tento manter um ambiente muito amistoso e favorável, evitando piadas ou comentários que possam retrair o paciente. Outro dado importante, é que não se adquire respeito e confiança de alguém em uma consulta de 15 minutos. O médico deve dar a oportunidade às pessoas de relatarem as suas dúvidas sem a angústia de estarem correndo contra o tempo. Além disso, faz parte da profissão médica entender que existem pessoas extrovertidas e outras não, que os seus pacientes receberam educação e normas sociais distintas e que aspectos religiosos influenciam nas discussões.
Em relação aos pacientes, sintam-se à vontade para discutir todas as suas dúvidas com os seus médicos. Todos as informações, por mais bobas ou vexaminosas que possam parecer, podem resultar em conclusões diagnósticas e tratamentos muito diferentes. O médico que está sentado à sua frente não está avaliando ou ridicularizando o que você diz, está apenas montando um quebra-cabeças com os seus relatos.
Se alguém procura um médico, e ao final da consulta deixou de discutir de forma voluntária um assunto que achava relevante ao seu caso, com certeza a relação médico-paciente foi deficitária, e a consulta ineficiente.
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