No livro “Complicações” o cirurgião de Harvard Atul Gawande decreve um caso exemplar para a discussão deste tema: quem deve dar a última palavra: o médico, que se preparou durante anos para tomar decisões, ou o paciente, que é o maior interessado nos resultados e conseqüências destas decisões.Segundo relato do Dr. Atul, após atender uma senhora de 80 anos de idade durante um plantão, ele percebeu que ela estava prestes a romper um aneurisma de aorta abdominal, e que obviamente evoluiria, caso uma cirurgia de urgência não fosse realizada imediatamente, para o óbito em questão de horas. Ele consultou um cirurgião vascular que concordou com a conduta e confirmou o diagnóstico com uma Tomografia computadorizada de abdome.
Só que a paciente, sem qualquer preparo médico condizente com a sua decisão, se negou a ser operada e foi para casa. Depois de duas semanas o Dr. Atul telefonou para a família para confortá-los pelo luto já esperado. Surpresa, a senhora atendeu o telefone e disse: “olá Dr. Atul, como está o Senhor, pois eu estou ótima”.
Este relato mostra que as decisões médicas sempre devem ser tomadas em conjunto, discutidas profundamente, considerando-se todos os prós e contras das opções pertinentes ao caso. Quando um paciente procura um médico, ele está fazendo uma consulta, e não sendo julgado a obedecer cada palavra do médico sem qualquer questionamento. Todo paciente deve obter o maior número de informações sobre o seu problema, e o médico deve saber ouvir a todas as dúvidas, esclarecê-las e argumentar com base nos seus estudos e experiência. Mas lembre-se, é o paciente quem lhe dirá se concorda ou não, já que ele está zelando pelo seu maior bem: a sua vida.
Quanto ao médico, cabe abrir mão da sua vaidade, entender que as pessoas podem e devem ter autonomia para tomar as suas decisões, e que nós não fomos derrotados quando as nossas opiniões não foram seguidas. Particularmente dedico-me ao máximo para demonstrar aos meus pacientes as razões pelas quais decidi por alguma conduta, e desta forma não me sinto frustrado ao ver que ele optou por outra. Se eu fui fiel ao estudos que realizei, ao meu preparo médico, eu sempre estarei consciente de que busquei o melhor para o paciente. Quanto ao paciente, cabe decidir sobre o seu tratamento de forma consciente, emocionalmente estável, baseado em informações sérias e bem interiorizadas, buscando sempre a opinião de médicos sabidamente competentes.
Na relação médico-paciente não pode haver um vencedor e um perdedor, nem o mais forte ou o mais fraco. O médico dever ser cúmplice dos problemas do seu paciente, e lutar ao seu lado sempre com o objetivo de cura. Quando um paciente fica bem e feliz, todos ganham, mesmo que ele não tenha seguido a risca as suas determinações. O objetivo do médico é o bem estar social, físico e psíquico dos seus pacientes, e quando isto é atingido, o seu desempenho já foi um sucesso.
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