Fístula
Perianal
O
que é?
Fístula perianal é
a comunicação anormal entre o canal anal
e a pele da região ao redor do ânus (perianal).
Esta comunicação ocorre devido à
obstrução de ductos das glândulas
anorretais, que devido a infecção, formam
um trajeto em direção à pele.
As fístulas perianais
acometem mais os homens do que as mulheres (duas vezes
mais), e o seu pico de incidência ocorre entre
os 30 e 50 anos. As fístulas podem ser secundárias
aos tumores do reto e do ânus, ou estar associadas
às doenças inflamatórias intestinais.
Tipos
de Fístulas
O ânus apresenta ao seu
redor um músculo responsável pela continência
fecal, e que se denomina esfíncter anal. As fístulas
perianais são classificadas de acordo com a relação
entre o seu trajeto e o esfíncter anal. Esta
classificação é importante para
que se defina qual será o tratamento cirúrgico
realizado, evitando-se assim que ocorra lesão
do esfíncter anal e conseqüente prejuízo
à continência fecal. As fístulas
perianais são classificadas em simples e complexas.
As fístulas simples (55
a 70% dos casos) são aquelas em que o trajeto
fistuloso ocorre abaixo do esfíncter anal, ou
seja próximo à pele. Estas fístulas
são de fácil tratamento, e têm índice
de recorrência baixo. São divididas em
extraesfincterianas baixas (abaixo do esfíncter
anal) e interesfincterianas (entre as porções
interna e externa do esfíncter anal).
As fístulas complexas
(30% dos casos) são aquelas em que o trajeto
fistuloso está comprometendo a musculatura esfincteriana
ou está acima desta. A maior implicação
desta relação com o esfíncter anal,
é de que as fístulas complexas são
de difícil tratamento quando comparadas às
fístulas simples. Além disso, estão
associadas a maiores taxas de recorrência, assim
como o seu tratamento pode trazer prejuízo à
continência fecal (lesão de esfíncter).
São divididas em transesfincterianas (o trajeto
passa pelo meio do esfíncter), supraesfincterianas
(comprometem a parte superior do esfíncter) e
extraesfincterianas (passam por cima da musculatura
esfincteriana).
Sintomas
Os sintomas mais freqüentes
das fístulas perianais são uma protuberância
perianal (principalmente quando associada a abscesso),
dor e saída de secreção (pus, muco
ou sangue). Esta eliminação de secreção
pode ocorrer tanto pelo orifício externo (pele)
quanto interno (canal anal), sendo que neste último,
a secreção estará misturada às
fezes.
A maioria dos pacientes com
fístula perianal tem como antecedente história
de abscesso (inflamação aguda na região
anorretal) que se drenou (esvaziou) espontaneamente
ou que foi drenado cirurgicamente para a retirada da
secreção purulenta.
O exame físico pode revelar
um trajeto espesso (“cordão” cicatricial)
que vai do canal anal até o orifício externo
na pele, principalmente quando se examinam fístulas
superficiais (simples). O exame do canal anal pode revelar
a presença de secreção purulenta
saindo da glândula comprometida (orifício
interno).
Quando o trajeto fistuloso não
é identificado facilmente, provavelmente trata-se
de uma fístula profunda (complexa), ou seja,
há o comprometimento do esfíncter anal
(músculo do ânus). Nos casos em que há
dúvida quanto ao trajeto ou, até mesmo,
a presença da fístula, pode-se utilizar
exames de imagem, como a ultra-sonografia anal e a ressonância
magnética, que mostrarão a extensão
e o trajeto da fístula.
Tratamento
Cirúrgico
O princípio básico
do tratamento da fístula perianal é abrir
o trajeto fistuloso, após este ser identificado
durante a cirurgia. A identificação é
realizada através da passagem de uma agulha a
partir do orifício externo (pele), e que deve
chegar até o orifício interno (canal anal).
A secção do trajeto é orientada
por esta agulha. O tecido que permanece na base da fístula
recém aberta deve ser curetado (raspado). A incisão
é deixada aberta, ou seja, sem sutura (fechamento)
da pele.
Nos casos em que uma grande
porção do músculo esfincteriano
está comprometida e deve ser dividido para o
tratamento da fístula (complexa), deve ser levado
em consideração o risco de incontinência
fecal. Nestes casos, utilizo como método de tratamento
a passagem de um fio (seton) ao redor do músculo
esfincteriano. Este fio promoverá uma grande
fibrose (cicatriz) no esfíncter anal, evitando
que no momento da secção muscular, haja
prejuízo à continência fecal do
paciente, já que a fibrose manterá o músculo
na sua posição correta. Este segundo tempo
da cirurgia é realizado após oito semanas
do procedimento inicial.
Uma técnica descrita há alguns anos para o
tratamento da fístula perianal é a utilização de colas biológicas, que quando injetadas no
trajeto fistuloso funcionam como um selante, obliterando a comunicação entre a pele e o
canal anal. Este é um método interessante, mas só deve ser indicado em casos de fístulas
muito complexas, já que nos casos restantes, o tratamento cirúrgico apresenta melhores
resultados.
Há alguns anos, foi desenvolvido um novo procedimento cirúrgico para o tratamento das fístulas anorretais complexas, conhecido por Surgisis Anal Fistula Plug. Este método consiste em um cone de colágeno que é introduzido no trajeto fistuloso, e que servirá de molde e estrutura para que o próprio tecido conectivo do paciente preencha e feche a comunicação anormal causada pela fístula, obturando desta forma todo o trajeto. A maior vantagem deste método é evitar um segundo procedimento cirúrgico, como na utilização do seton, e principalmente, evitar o risco de incontinência fecal, já que não há secção da fístula e do músculo esfincteriano, e sim um preenchimento do trajeto. Apesar dos primeiros estudos mostrarem bons resultados com a técnica, os estudos mais atuais e a minha experiência pessoal com o plug mostram que ele ainda deva ser aprimorado, já que os resultados cirúrgicos são irregulares, com persistência da drenagem pela fístula por longa data, e em alguns casos, sem a resolução definitiva do problema.
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