Diverticulite
Aguda
O
que é?
Divertículos são
formações saculares que podem ser encontradas
em todo o tubo digestivo, localizando-se, entretanto,
com maior freqüência ao longo do intestino
grosso. Estas saculações são o
resultado da fraqueza de alguns locais da parede do
intestino grosso, principalmente na musculatura desta
parede.
Esta doença atinge 8%
da população mundial, e aumenta progressivamente
com a idade. Sabe-se que um terço das pessoas
com mais de 60 anos apresentam divertículos intestinais.
Em contrapartida, é menos freqüente em pessoas
com idade inferior a 40 anos (2 a 5%).
A diverticulite aguda ocorre
devido à obstrução destes divertículos
por fezes ou por alguns alimentos, o que levaria a um
grande processo inflamatório na parede intestinal,
associado a uma infecção do local. A diverticulite
aguda é uma complicação comum na
evolução e história natural da
doença diverticular, e ocorre em 10 a 25% dos
pacientes com divertículos intestinais.
A evolução da
diverticulite aguda pode ser para a resolução
pelo tratamento clínico, ou então se complica
pela formação de abscesso (pus), perfuração
e peritonite (infecção da cavidade abdominal).
De acordo com esta evolução, a diverticulite
aguda se apresenta em quatro graus: (1) inflamação
e infecção limitada à parede do
intestino grosso; (2) abscesso (presença de pus)
próximo ao divertículo comprometido; (3)
perfuração do abscesso com vazamento de
pus para toda a cavidade abdominal; e (4), o vazamento
de fezes para a cavidade abdominal devido à perfuração
do divertículo.
Sintomas
Apesar da diverticulite aguda
acometer qualquer idade, ela é mais comumente
observada em pacientes com mais de 50 anos de idade.
A dor é a sua principal característica,
estando esta localizada no lado esquerdo do abdome.
O sintoma doloroso é semelhante ao da apendicite
aguda, só que no lado esquerdo. A dor tem um
início lento, mas progressivo, tornando-se constante
com a evolução do processo inflamatório,
e se apresenta como cólica intestinal.
Observam-se náuseas,
mas os vômitos são infreqüentes, e
quando presentes podem sugerir intenso processo inflamatório
intestinal. A distensão do abdome é uma
queixa freqüente, principalmente após as
refeições. A febre é outro sintoma
normalmente referido e, quando elevada, sugere a possibilidade
de diverticulite com abscesso. Alterações
do hábito intestinal, como diarréia e,
principalmente constipação, também
são muito comuns. Surtos repetidos de diverticulite
aguda levam ao estreitamento do intestino grosso, causando
distensão do abdome e alteração
na forma das fezes (em fita ou “bolinhas”).
Devido à proximidade
do intestino grosso com a bexiga e o ureter, alguns
pacientes referem sintomas semelhantes aos da infecção
urinária, como a ardência ao urinar.
Ao exame físico, o paciente
refere dor à palpação do abdome,
e dependendo da intensidade (abscesso ou peritonite),
o exame é extremamente desconfortável
para o paciente. Em alguns casos, o intestino grosso
acometido pela diverticulite é facilmente palpável
devido ao grande processo inflamatório ou à
presença de abscesso volumoso.
Diagnóstico
O exame de sangue (hemograma)
mostra um aumento das células de defesa (leucócitos),
podendo ser este aumento discreto (diverticulite leve)
ou intenso (abscesso e peritonite).
A ultra-sonografia e a tomografia
computadorizada do abdome são métodos
úteis no diagnóstico da diverticulite
aguda, pois mostram a inflamação da parede
do intestino grosso, além da presença
do abscesso. Nos casos que atendo em meu consultório,
dou preferência à tomografia, já
que este é um método de maior eficácia
do que a ultra-sonografia no diagnóstico da diverticulite
e das suas complicações, além de
possibilitar o diagnóstico de outras doenças
(ginecológicas e apendicite aguda), quando não
se tem certeza se a causa dos sintomas é mesmo
a diverticulite.
Um outro exame importante no
diagnóstico da diverticulite é o enema
opaco. Neste exame injeta-se contraste no interior do
intestino, e desta forma, o exame mostra a presença
dos divertículos, do processo inflamatório
na parede do intestino grosso, além, da diminuição
do calibre do intestino. No entanto, este exame só
pode ser realizado por médico experiente, pois
a colocação do contraste no intestino
gera um aumento da pressão em seu interior, o
que levaria ao risco de perfuração do
divertículo.
Tratamento
O tratamento depende da intensidade
dos sintomas e da presença ou não de complicações.
As diverticulites muito leves podem apresentar resolução
em ambiente domiciliar, e os pacientes são orientados
a fazerem dieta sem fibra, e recebem antibióticos
para o tratamento da infecção associada,
de analgésicos, para o tratamento dos sintomas
dolorosos, de antieméticos para a prevenção
de náuseas e vômitos e antigases, para
a melhora da distensão abdominal.
Nas formas não complicadas,
nas quais o paciente apresenta dor mais forte, febre,
desconforto à palpação do abdome
e alteração no hemograma, o tratamento
clínico deve ser indicado. O tratamento clínico
consiste em hospitalização, jejum ou dieta
leve para promover o “repouso intestinal”,
e hidratação. Estes pacientes recebem
antibióticos e analgésicos por via endovenosa
(veia). Após a melhora dos sintomas dolorosos
e do quadro infeccioso, a dieta é reintroduzida
de forma progressiva. O tratamento clínico permite
a cura em 70 a 85% dos pacientes com diverticulite aguda.
O tratamento cirúrgico
está indicado nos casos em que houve falha no
tratamento clínico ou na existência de
complicações, como o abscesso e a perfuração
intestinal. A operação consiste na ressecção
(retirada) da parte do intestino grosso comprometida
pelos divertículos e pela diverticulite, com
reconstrução do intestino (junção).
Nos casos em que há uma
grande infecção intestinal associada à
presença de pus e fezes na cavidade abdominal,
a ressecção do intestino também
é realizada. No entanto, a reconstrução
do intestino pode ser perigosa devido ao risco de fístula
(vazamento) no local de junção das partes
do intestino. Nestes casos, realiza-se uma colostomia
(exteriorização do intestino grosso através
da parede do abdome). Depois de resolvido o processo
inflamatório e infeccioso por completo, o paciente
é submetido à reconstrução
do trânsito intestinal normal, com fechamento
da colostomia. Este segundo tempo da cirurgia é
realizado, em geral, dois meses após o primeiro
tempo do tratamento cirúrgico.
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